sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tardar...

Caio sempre foi um homem muito ocupado, não tinha tempo para nada, e nada era o que pretendia fazer se lhe sobrasse algum tempo.

Certa vez, arranjou uma hora livre e decidiu visitar o avô que não via há uns dois anos. Ao chegar lá, num domingo de Páscoa, o presenteou com um grande ovo. A alegria do velhinho era sem idade e mesmo que por muitas vezes essa alegria estivesse escondida num rosto fadado pelo tempo, neste instante era o outdoor para quem passava a sua volta.

O velhinho ainda sem saber exatamente o que dizer, abraçou o neto e foi falando:

-- Muito obrigado meu neto, sabia que não se esqueceria do avô aqui, mas me conte como vai a vida...

Antes que o velhinho continuasse, Caio o interrompeu...

--Vô me desculpe, mas passei aqui rapidinho e tenho que voltar para casa, quando der apareço, não vou tardar. Juro!

Assim abraçou o avô e fez o caminho para sua casa. Neste instante, outro neto, de seus míseros seis anos de idade, pediu:

-- Vô, me dá um pedaço?

-- Desculpe pequeno, mas só abrirei este ovo quando o Caio vier, ele disse que não vai demorar, esse ovo é para mim um pedaço meu e um pedaço Caio...

E assim se passaram mais dois anos, mais três anos e Caio foi visitar o avô novamente. Lá chegando, aquele homem tão ocupado olhou para o outro neto e disse:

-- Vá chamar o vô pra mim...

O menino foi, depois de vinte segundos apareceu com o ovo que Caio havia dado.

--Olha Caio, essa foi a metade que ele deixou na terra, a outra foi embora acreditando que você não ia tardar...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fingir que não vê é o pior ponto de vista...

Há algum tempo achava maduro reagir às criticas ignorando-as completamente, pensava que desta forma mostraria o quanto outros pontos de vista não atingiriam os meus. Hoje, ignorar deixou de ser uma constância em minhas concepções. Quem ignora, tem medo de ouvir. Não quero deixar pra lá, nem quero fingir que não escuto e não vejo, pois fingir que não vê é o pior ponto de vista. O que faria uma pessoa com perfeita visão não querer enxergar? Quem ignora tudo que não gosta, não consegue ignorar a própria ignorância, afinal, a única coisa igual a todos os homens é a diferença. Percebi que à medida que vejo as coisas de forma mais transcendente, passo por uma mutação nas minhas conjugações. O ignorar que fique no passado, pois quem tem tolerância se faz muito mais presente. Mas o que realmente não posso mudar, e me é inerente, é a maturidade. Há quem diga que, ao longo do tempo e com a própria idade, ela bate na sua porta. Hoje ela é a visita freqüente dos meus dias. De “com a idade”, passou a ser “em qualquer idade” e do “ao longo do tempo”, o “a qualquer hora”, do inesperado ao diariamente... Prefiro então deixar a porta apenas encostada, pois o pior tipo de clausura é a que existe pelo simples fato de você considerar a inexistência das idéias dos outros.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A pressa de quem mora perto...

Na ultima semana de março não fui nada pontual com os horários da faculdade. Dormia tarde para a conclusão de trabalhos, acordava às 6:00 da manhã, não tomava café e ia correndo para apanhar o primeiro ônibus lotado das manhãs. No percurso, olhava constantemente os ponteiros do relógio como se assim, pudesse fazer com que eles passassem mais devagar. Essa rotina, confesso, enfadava-me fortemente e hoje,quando estava caminhando pelo centro da cidade, decidi conversar com minha mãe e expor que não queria mais as idas e vindas de horários mal cumpridos e o cotidiano de passagens bem pagas. A viagem era tão longa que seria injusto da minha parte dizer que não era um dinheiro bem dado.

-- Não agüento mais essa distância! Queria morar no centro, pelo menos lá ia ser muito melhor pra mim, não ia precisar de nada, teria tudo perto... (disse)

Enquanto caminhávamos, um mendigo sentado e encostado na parede de uma loja levantou a mão e pediu:

-- Um vale A moça, uma ajuda!

No mesmo momento minha mãe virou-se para mim e falou:

-- Realmente... Todo mundo que vive no centro é mais feliz...

Mudar o verbo reclamar para o agradecer foi a conseqüência. Eu podia pagar o preço justo das passagens. Podia... Mas e o mendigo? Ah... Esse dependia de A de B e de C e diferentemente de mim, rezava para que os ponteiros do relógio passassem mais depressa...